Pesquisador propõe qualificação da comunidade do entorno portuário 23/07/2009 - 14:30

O desenvolvimento de dinâmicas de qualificação da comunidade do entorno portuáriaoe  a geração de empregos foram destaques das palestras da manhã desta quinta-feira (23), na 1.ª Convenção Hemisférica Ambiental Portuária da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Foz do Iguaçu. O especialista em desenvolvimento local do Porto de Le Havre, Cyril Chedot, trouxe ao evento as experiências e medidas adotadas na França visando o desenvolvimento portuário.

De acordo com Chedot, é fundamental para o desenvolvimento de um estado medir os impactos do porto na comunidade. “Nos últimos quatro anos aplicamos dinâmicas de profissionalização à população do entorno do Porto Le Havre. Hoje temos 20 pessoas da comunidade trabalhando dentro da estrutura portuária. Temos uma pequena universidade próxima ao porto que vem promovendo a especialização de jovens da região. Dentro de dois anos teremos dois mil estudantes dedicados às atividades marítimas e portuárias”, relatou Chedot.

“Temos uma associação de portos que trata de sistemas de interação porto-comunidade. Quando uma cidade não trabalha bem dentro do sistema urbano temos um impacto direto no polígono porto. Discutimos recentemente com o presidente Nicolas Sarkozy que, para desenvolver Paris, é necessário criar uma grande região, conectar a cidade ao porto através do Rio Sena, criar uma conexão entre o Porto Lê Havre e a cidade. Desta forma, as pessoas serão capazes de morar no Porto de Lê Havre e trabalhar na grande Paris. Quando o projeto estiver pronto milhares de pessoas serão beneficiadas”, destacou o especialista.

Chedot ressaltou a importância da criação uma política sistemática de preservação ambiental. “Na França, a tolerância é zero em relação à emissão de poluentes no ar e ações que resultem em assoreamentos de uma bacia. Temos que criar intercâmbios com outros portos, integrar estes espaços, estimular discussões. O porto é um espaço urbano aberto para as pessoas, eles estão conectados, trabalham juntos. É importante definir quais os direitos e deveres da comunidade do entorno do porto. Em Lê Havre desenvolvemos um projeto comum de cooperação, ampliando a interface porto/comunidade”, explicou.

“Empresas da industria naval são atraídas para os portos quando há organização. Precisamos trabalhar no sentido de desenvolver uma nova relação com as pessoas. O segredo de uma boa relação comunidade/porto é que este esteja sempre ativo. Se a estrutura está parada no tempo temos um problema. A cooperação entre a cidade e o porto é parte das políticas de desenvolvimento sustentável na nossa região. A questão com o meio ambiente é importante, o que está em jogo é que no desenvolvimento de um porto temos envolvidos a comunidade, o espaço, a economia. Daí a importância da relação porto/cidade”, acentuou Chedot.

Estudo - O pesquisador e consultor internacional de gestão urbana do Ministério do Meio Ambiente, Aberto Costa Lopes, apresentou um levantamento de indicadores sistemáticos sobre a situação dos portos no Brasil. “Segundo um macro diagnóstico realizado na zona costeira e marinha do Brasil, 17 estados estão implicados na gestão costeira, e 395 municípios recebem influencia direta dessa região. Destes municípios, mais da metade possui população de até 20 mil habitantes. Estas cidades tendem a ter capacidade de gestão limitada”, explicou.

Costa ressaltou que a mediação do estado é importante para a arbitragem das formas desejadas de ocupação da costa. “A região se constitui como um território de variadas dinâmicas econômicas e ambientais. É fundamental a mediação de conflitos entre agentes sociais e o meio ambiente. Segundo o estudo, um quarto da população do Brasil está localizada nas áreas costeiras. São 43 milhões de habitantes. Para termos uma idéia da magnitude dos portos, movimentamos 774 milhões de carga em 2007”, disse.

“O macro diagnóstico aponta também a distribuição desigual da biodiversidade na costa. No país temos 34 grandes portos, e nestas regiões a diversidade ambiental é imensa. Temos praias, manguezais, estuários, enseadas e lagunas. São criadouros da biodiversidade marinha, fundamentais para a continuidade de espécies marinhas. Hoje são 26 unidades de preservação nestas áreas. Recentemente, o plano geral de outorga identificou 16 novas áreas para abrigar novos portos”, afirmou.